segunda-feira, 11 de março de 2013

Perdi!


Perdi!
Esqueci!
Não sei onde está. Minha essência de criança saiu pra comprar cigarro e nunca mais voltou.
Ter pesadelos não justifica mais meu xixi na cama.
Também não posso mais chorar de tanto rir ao ver alguém caindo.
Não faço mais a coreografia do Michael Jackson na cozinha enquanto finjo que a escova de cabelo é meu microfone. Não passo as tardes assistindo Chaves deitada no sofá segurando a mamadeira com uma mão e enrolando o cabelo com a outra.
Nem monto em vassouras fingindo que elas são um cavalo.
O cabelo da minha irmã não amanhece com chiclete grudado depois de uma ameaça feita após uma briga por bolinhas de gude. Não acerto mais o diretor do colégio com uma bola de papel feita com páginas da minha própria apostila. Ninguém mais me coloca apelidos de garça, Olívia Palito, testa de amolar machado.
Também não rabisco a parede com caneta Bic e acho que ficou bem melhor.
Não fico escondida embaixo da mesa roubando pedaços do pão que minha avó colocou pra crescer. Nem faço meu avô trazer um bicho preguiça da fazenda pra ser meu amigo de estimação.
Já não encosto minha cabeça na cabeça de quem tem piolho pra levar pra escola e passar pra todo mundo. Não brinco mais de carrinho, não jogo futebol nem tenho mais minhas bolinhas de gude leiteiras.
Faz tempo que não passo a tarde dentro do banheiro gritando “Traz papel” depois de brigar por causa de brigadeiro e comer mais do que cabia. 
Também faz tempo que voei de avião a primeira vez e perguntei pra minha mãe “Por que aquelas formigas lá embaixo usam roupas?”
Não uso meias até o joelho com sandália melissa. Meu cabelo não é mais colorido nem parece uma juba.
Nem ando de bicicleta dentro do quintal carregando o “Alf- O é teimoso” na cestinha. Parei de embrulhar frutas podres em caixas de presente e soltar no pátio da rodoviária pra ver quem iria pegar.
Não participo mais de concursos de arroto. Não procuro as 3 Marias no céu.
Uso relógio de ponteiro e sei ver as horas. Encontrei o sentido na resposta do “Dormiu bem?” porque antes eu sempre estava dormindo e não tinha como responder.
Ah, não tiro mais casquinha dos machucados!
E o meu “não fui eu” hoje vale.

4 comentários:

Anônimo disse...

Saudade de um tempo assim que não volta! Ká.

Anônimo disse...

Minha essência deve ter ido junto com a sua. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Bjão! Mais uma crônica perfeita.

Anônimo disse...

ÓTIMAAAAAAA!!!! PRA VARIAR. RSRSRSRSRS

Anônimo disse...

Uma das minhas preferidas! É mesmo coisa de DOM, menina!!! A-D-O-R-O!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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Fabí Assis Barddal
Uma inútil que acredita que a inutilidade um dia vai dominar o mundo. Por formação sou Engenheira Agrônoma Paisagista e escritora
por pura preguiça de trabalhar. Também corto cana nas horas vagas.
Nada disso me deu dinheiro, só muito prazer.

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