quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Acontece!


         Sabe... Nem sempre foi assim! Antes de tirar minha carteira de habilitação eu vivia sonhando em ser piloto de rally, mas desde as minhas primeiras tentativas criei uma verdadeira inimizade com o volante, com a embreagem, com o freio, com o acelerador, com o câmbio. Acho que só!
         Há 4 anos atrás fiz minhas primeiras aulas e descobri que paciência é mesmo um dom. Puxa vida, ta lá a placa de pare, não vem ninguém e o instrutor manda parar. Que pessoa insatisfeita! Se eu já consegui sair sem deixar o carro morrer pra que querer insistir em parar de novo? Isso só serve pra vir algum legalzão do trânsito parar bem atrás, nada contra pararem atrás, quer dizer, não gosto que parem atrás de mim, mas o que irrita é que sempre tem esses legais que além de pararem atrás ficam dando risadinhas, ultrapassam bem devagar rindo e aceleram gargalhando. Uma graça só! Êêêê que engraçado!
        Se não fosse os milhões de pitos do meu instrutor pra não revidar fazendo gestos com os meus dedinhos e com palavras de carinho hoje acho que eu seria muito violenta no trânsito. Atribuo grande parte dessa culpa as autoescolas que adesivam tanto os carros que só faltam colocar “Não estou bêbado, apenas dirijo mal”. Pois bem... Deixemos o passado pra lá.
        Pra iniciar essa minha nova fase de mulher moderna decidimos comprar um carro. Vendi para os meus pais a moto que eles me deram na época da faculdade. Sou boa de negócios! Isso fez com que as primeiras parcelas estejam garantidas. E aí claro que na hora de escolher o modelo minha primeira exigência foi que fosse o menor possível. Tudo graças a minha falta de noção de distância.
        Hoje como podem ter percebido continuo não só inimiga do volante, como da embreagem, como do freio, como do acelerador, como do câmbio, mas também inimiga dos meios fios, dos postes, das vagas, dos outros carros, dos quebra molas, enfim, de todas essas coisas que conspiram contra mim. Sou a típica mulher na direção, o perigo é realmente constante. Não duvide disso! Nem sempre assumi esse meu lado, e também só assumi porque já não aguentava mais inventar “estórias” pra jogar a culpa em alguém ou no próprio carro.
       Todas as manhãs eu e o Jurandir (Opa, esqueci de apresentar, Jurandir é o meu carro) saímos pra nos aventurar. Morando longe da empresa não tive escolhas. Tive que dirigir na marra! Não gosto de dirigir, sou descoordenada e tenho preguiça. Pra mim são motivos suficiente pra não dirigir.
       Toda vez antes de sair de casa repasso as técnicas que eu mesma inventei pra poder controlar minha falta de paciência. Basta traduzir...
        Buzinaram = Parabéns, Fabí!
        Sai da Frente = Como você é legal!
        Barbeira = Que neguinha bonitinha!
        (#$%&+) = Dirige bem!
        (#$%#&@$&&#) = Nossa, você dirige muito bem mesmo!
      E assim eu sigo todos os dias, deixando o carro esguelar até passar pra segunda, engatando a terceira achando que é a primeira (e tentando sair), olhando para os lados e invadindo a pista contrária, passando no quebra mola em quarta, andando em soquinhos no congestionamento, pintando a roda no meio fio, subindo no meio fio, chega! E assim foi hoje meu dia.
      E pra mostrar que eu posso fazer pior sem o carro, quando cheguei depois de todas essas manobras admirei o gesso novo do corredor do prédio, observei que até que enfim o vizinho do lado tirou aquela coisa que ele chama de vaso e que finalmente tinham trocado a lâmpada amarela por uma clarinha. No meio de tanta surpresa com as mudanças levei um grande susto. Por um minuto cheguei a achar que empolgados em trocar tudo tinham trocado até minha fechadura. Insisti mais duas vezes até perceber que aquele não era meu andar e aquela não era minha porta. 

0 comentários:

Postar um comentário


Fabí Assis Barddal
Uma inútil que acredita que a inutilidade um dia vai dominar o mundo. Por formação sou Engenheira Agrônoma Paisagista e escritora
por pura preguiça de trabalhar. Também corto cana nas horas vagas.
Nada disso me deu dinheiro, só muito prazer.

Crônicas

Seguidores