domingo, 6 de junho de 2010

Apartamento 308


            Pra mim que sempre vivi no interior e morei em casas me mudar para uma capital com meu noivo e morar num apartamento era como se tivéssemos sido sorteados no baú da felicidade do Silvio Santos. Meses depois da mudança radical percebi que pequenos detalhes realmente fazem grande diferença. Que fique bem claro que nesses ‘pequenos detalhes’ o noivo em questão não entra. Muito menos as partes íntimas dele. Os pequenos detalhes aos quais me refiro é sobre a vida em apartamento.
    Pra começar “308”. Nunca fui apegada a número nenhum. Quando tinha que escolher algum número em brincadeiras daquelas que no final a pessoa sempre falava que você ganhou alguma pessoa chata ou que ganhou fazer algum favor de merda (e o número pedido nunca importava) eu sempre caía e escolhia o 5. Isso porque sempre me recusei usar meu cérebro à toa. Escolhia o 5 porque é dia do meu aniversário. Pois bem, 308. Um número normal, até bonitinho, se você olhar bem pra ele da até pra ver que os números combinam um pouco. É! Soa simpático, 308! Fora isso vem à queimação total. Quando perguntam o endereço a tática é falar 308 bem rapidinho ou falar fanhamente (o que pra mim não é tão difícil assim apesar de eu não ser fanha) 308! Apenas um número como muitos outros, mas que traz consigo uma grande mensagem subliminar. Calma, eu explico! 308... 8..., eu disse OITO – oito apartamentos por andares. Ae, que maravilha! Oito apartamentos por andar. Muitos vizinhos... Êêêê! E como já diziam os velhos ditados: "Se vizinho fosse bom não existiria muro", “O vizinho é inimigo da perfeição”, “A esperança e os vizinhos são os últimos que morrem”, "Se vizinho fosse bom, não era de graça”. Sábios ditados!
          Daqui uns dias nos mudaremos para outro prédio com 3 apartamentos por andar. A questão do status de poucos apartamentos por andar nesse caso não empolga tanto (Mentira! Estou me achando a ganhadora da tele-sena – Olha ele de novo aí. Sim, Silvio Santos formou o meu caráter!) Mas a melhor parte vai ser mesmo deixar meus queridos vizinhos. Talvez eu esteja sendo cruel demais em abandoná-los, mas acho necessário.
          A partir do mês que vem não terei mais os vizinhos de cima, um casal gay, discutindo a relação todos os dias. Espero do fundo do meu coração que o Wesley não deixe mais a cueca apodrecendo dentro do balde, que ele pare de falar mal do namorado dele para a amiga deles, a Carla. E que eu não sinta mais raiva da Lady Gaga já que ele me obriga ouvir Paparazzi 1.836 vezes seguidas todos os dias em todas as versões possíveis.Também não cruzarei mais com a vizinha da frente, uma loira, que ao invés de cuidar da vida dela fica cuidando da nossa. Foi contar pra síndica que a gente tinha cachorro e como o cachorro nunca tinha latido a síndica que acha que é dona do prédio e deve ser prima terceira do lampião montou campana para pegar a gente numa emboscada. Ficou de plantão na janela esperando a gente sair com o cachorro. Dito e feito! Na volta ela nos pegou no pulo. E o pulo foi tão certeiro que quando ela viu a gente chegando correu pro elevador pra dar o flagra na gente. Conseguiu! Falou o que quis e que ia procurar os direitos dela pra nos obrigar a desfazer do cachorro. Ressaltou várias vezes durante uma tradicional “zorbada” que era a SÍNDICA. Bom, como síndica ela também deveria saber que existe uma lei federal que derruba qualquer lei de condomínio nos permitindo ter nosso cachorro-filho. E tem a velhinha dos cabelos vermelhos que toda vez que vê a gente chegando com o Churros (cachorro) fecha a porta do elevador na nossa cara. Coitada! Antes sair com o cachorro do que com aquele projeto de espiga de milho ralada esfregada na geléia. 
          São tantos vizinhos, tantas histórias... Morando aqui me sinto dividindo quarto com todos eles. Espero não sentir saudade de tudo isso. E se eu vir a sentir muita saudade sentarei na sacada do apartamento novo de frente pro mar com um téra na mão e esperarei passar.

1 comentários:

Cristiane Veronesi disse...

Ta com saudades nao???

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Fabí Assis Barddal
Uma inútil que acredita que a inutilidade um dia vai dominar o mundo. Por formação sou Engenheira Agrônoma Paisagista e escritora
por pura preguiça de trabalhar. Também corto cana nas horas vagas.
Nada disso me deu dinheiro, só muito prazer.

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