segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dom!

          Sempre gostei de escrever. Quando era criança tinha diário, quando era adolescente tinha agenda, sempre escrevia e-mail para os meus amigos e agora escrevo no blog.
         Nunca imaginei que isso fosse um dom. Aliás, por um bom tempo da minha vida me dediquei de diversas maneiras a descobrir o dom que eu possuía. Dizem que todos tem algum dom, então, eu queria saber qual era o meu.
      Sempre fui uma criança desastrada e carrego essa minha característica peculiar até hoje. Talvez seja ela a grande culpada pela destruição dos meus outros dons. Eu devia ter uns 10 anos ou não. Só sei que eu era uma quase adolescente (boa memória não faz parte das minhas qualidades - os mais íntimos me chamam de “Dori”. Apesar de não gostar sei que ele realmente faz sentindo) Na época eu tinha a idade que vocês preferirem, 9, 10, 11, 12 - 13 não! Porque aos 13 tenho outra coisa pra contar. Mesmo sendo criança eu já tinha ouvido falar sobre dom e já estava em busca de saber qual era o meu. 
         Certo dia estava brincando com outras crianças na rua da casa da minha vó. Depois de horas de pega-pega (na minha época pega-pega era realmente uma brincadeira e não beijar os meninos) resolvemos roubar seriguela. Todo mundo subiu no pé. Menos eu que fiquei no chão fingindo que as debaixo eram mais gostosas porque na verdade eu nunca tinha subido em árvores. Depois daquela conversa de dom resolvi tentar subir porque talvez meu dom fosse subir em árvores. Consegui! Tudo bem que demorei cerca de meia hora e me esfolei toda. Sentada lá em cima não conseguia nem comer pensando em como eu ia fazer pra descer. E só aí percebi que aquele não era meu dom. Comecei a pensar numa estratégia, mas não tive muito tempo pra isso. A mãe de dois colegas que estavam na árvore gritou que eles iriam apanhar se não fossem embora naquele instante. Todo mundo começou a pular rapidinho da árvore e eu achei que aquele era o melhor momento também. Sentei e me impulsionei para pular - Todo mundo desceu, menos eu! Fiquei enroscada pelo short num maldito galho grosso. Naquela hora a minha sorte era que o short que estava enroscado e não eu. Como eu ia chegar em casa e explicar pro meu pai que uma árvore tirou minha virgindade? Se bem que do jeito que eu tava enroscada o short quase tava fazendo isso. Também ia ser estranho explicar que foi um short. Enfim, todo mundo viu e riu. Relembrando essa história parece que to vendo a cara de todo mundo me olhando e rindo. Claro que ninguém me ajudou! Naquela época amigo era filha da puta. O gostoso era sacanear porque mesmo assim as amizades continuavam as mesmas. Fiquei lá me chacoalhando até o short rasgar. Ainda bem que era de pano porque se fosse jeans eu calculo que eu estaria lá até hoje. Fiquei de mal dos meus amigos por longos dois dias. Não que eu estivesse com muita raiva deles, mas porque eu dei tempo pra outra pessoa ser sacaneada e não rirem mais tanto de mim.Primeiro dom fracassado!
       Conforme fui crescendo descobri que esse dom que tanto falavam ia muito além de dons como subir em árvore, fazer um lego massa, pintar sem borrar e outras coisas assim. Ao entrar para catequese aos 13 anos vi que essa poderia ser uma grande chance de descobrir meu grande dom. Não, nunca pensei em ser freira. Minha mente sempre foi poluída, gostava de um mal feito e de uma peraltice. O dom que eu poderia descobrir na catequese era como cantora. Seeeempre gostei muito de cantar. Apesar de alguns acharem que eu não seria uma boa cantora por me considerarem fanha (Por falar nisso, eu não me acho fanha, então, não sou fanha! Entederam?). Mas, não foi por isso que não me destaquei. Pedi pra professora pra entrar pro coral para poder cantar na casa de Deus. Como meu pedido foi bem sentimental e apelativo ela permitiu. Já no segundo ensaio percebi que ela tava me tirando. Primeiro me colocou atrás de todo mundo onde eu ficava bem escondida, depois ficava toda hora implicando comigo me mandando cantar no ritmo ou pedia pra eu não cantar tão alto e na frente dos demais. Oras! Quanta ousadia da parte dela. Mesmo assim continuei confiante que esse era meu dom. Mas, desisti. Até hoje não tenho certeza se não é mesmo porque a professora nem deu tempo pra eu tentar. Além de me avisarem o horário errado dos ensaios eles ainda me avisavam a data errada das apresentações.
        Já maiorzinha e buscando a ligação de uma coisa com a outra parti pro lado da dança. Adolescente, recém entrada na faculdade fui pra festa dos calouros. Acho que não tinha uma maneira melhor do que ser notada do que dançar com um veterano e cair no meio da pista. Fiquei um mês com a perna roxa. Pra mim o tombo foi rapidinho, mas pra tanta gente ter visto e pelo tamanho do roxo acho que a coisa foi muito mais além. Provavelmente devem até ter me pisado ou me chutado. E se foi chute, foi uma bicuda! Mas não pensem que eu desisti!
           Algumas semanas depois fui pra cidade dos meus pais visitá-los. Como a cidade é pequena e não se tem muito o que fazer até baile da terceira idade é diversão. E foi bem pra um bailinho assim que meus amigos resolveram ir em um sábado a noite. Eu me empolguei ao extremo! Estava aí a minha chance de mostrar a Fabizinha de Jesus que habita o meu ser. Lá aprendi várias coisas: Mal cheguei e um velho já me tirou para dançar – aprendi que não é panela velha que faz comida boa. Dancei com um, com outro, com outro e depois mais ninguém quis dançar comigo – aprendi que velhos são fofoqueiros. Só porque pisei na unha encravada de um ele saiu fofocando pros outros e ninguém mais quis dançar comigo. Sentei e fiquei pensando o que eu poderia fazer pra algum velho dançar comigo já que minha turma toda estava dançando e ninguém queria ir embora. Lá na terceira idade as pessoas dançam em um círculo cheio de cadeiras em volta. O que me lembrou dos bailinhos do Silvio Santos – Quer namorar comigo? Era preciso salvar minha noite.  E eu decidi salvá-la! (Salvar minha noite era dançar e me divertir como os outros e não como hoje no viva a modernidade - vou achar alguém pra me comer). Sentei e comecei a dar piscadinhas para um velhote do outro lado da pista. Ele, nada! Mandei beijinhos pra ver se apelando ele me tirava pra dançar. E ele? Nada! Insisti. E depois de quase meia hora insistindo descobri que o velho era cego. Maravilha! E foi dessa maneira sutil que eu desisti do sonho de descobrir meu “dom”.
         Depois de tantas tentativas fracassadas me conformei em não ter dom. E pra não correr o risco de entrar em uma depressão optei por ficar feliz porque não ter dom era na verdade um dom.
         E quando eu já tava bem crescidinha e conformada eis que descubro que os textos que eu enviava por e-mail para meus amigos eram na verdade crônicas. Comecei então a ler muitas crônicas de cronistas consagrados. Li muito Luis Fernando Veríssimo. Me tornei fã incondicional! Depois que terminei de ler um livro dele escrevi duas crônicas no mesmo estilo. Recebi vários elogios mas, não fiquei feliz. Como disse antes, escrevi no mesmo estilo, estilo dele. Não meu!
         E se existe a proposta de uma publicação porque querer ser só mais uma? Já tem muita gente boa que escreve naquele estilo.  Estou em busca do meu espaço, então, nada mais lógico que escrever do meu jeito.

7 comentários:

Anônimo disse...

Fabiiiiiiiii vc me raxa a cara! Põe maaaaaaaaaaaaaaaissssssssssssss! quero ler. bjs!

Anônimo disse...

oooooooops! esqueci de me identificar. kkkkkkkkkk... Bjs xuxuzita! Ass:Rá :D

Maria Luiza disse...

Que orgulho dessa minha amiga viu! Parabéns Fabí... entrarei direto para ler suas crônicas, morro de rir, amo lê-las! =D

* Itamara * disse...

Fabiiii...
mto boa sua " crônica"...
além de ser uma história interessante é mto engraçada...
q é bem sua cara né :)
parabéns viu!! Boa sorte...
finalmente descobriu seu DOM!!!!
beijosss da Ita :)

Flores disse...

Fabi,meu anjo!
Sabe que gosto muito das suas crônicas. Espero que continue escrevendo para publicarmos o seu livro!
Te amo!
Beijos!
Flores ... para você!

Carielen disse...

hauahuaha...Fabí me rachei d rir viu...ahauhaua...

PS; Até hj não descobri meu dom...rs...será q tenho algum..ahuaha...

bJo...parabens.

JAQUE disse...

Arrazou!!!
Parabéns...Fabí
Essas eu ja conhecia, mais a cada lida fica ainda mais engraçado... :)

ótimas crônicas..e com seu toque especial fica tudo mais divertido...

Tudo de bom nega... vai ser o mais novo sucesso da net com certeza.

Bjão...vc ta sempre no meu coração.

Sucesso e reconhecimento ;)

Jaque.

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Fabí Assis Barddal
Uma inútil que acredita que a inutilidade um dia vai dominar o mundo. Por formação sou Engenheira Agrônoma Paisagista e escritora
por pura preguiça de trabalhar. Também corto cana nas horas vagas.
Nada disso me deu dinheiro, só muito prazer.

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